Prezados Oblatos Irmãos, Padres, formandos, Leigos Josefino-Marellianos e Missionários.
A Semana Santa começa com o Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, dia de grande importância no calendário litúrgico. Falando como biblista e pesquisador em Liturgia, eu lamento muito que, nestes dais da Semana Santa, aconteçam muitas atividades que são inadequadas quando viven-ciadas como expressão litúrgica. A Liturgia não é teatro, não é para emocionar ou para entreter, e sim para conduzir ao conhecimento amoroso e intelectual do Mistério, especialmente nestes dias, o Mistério Pascal.
Estivemos reunidos, no dia 21 de março, todos os formandos da Província, ou quase todos. Na ocasião pudemos estudar e compreender um pouco mais as Teologias do Mistério Pascal, expressas nos conceitos Cruz, Messias e Cordeiro. Entre muitos elementos que analisamos, destacamos que a Liturgia tem uma Teologia, e que isso é preciso compreender para transmitir aos fiéis que celebram co-nosco a Semana Santa. E o que é fundamental: Liturgia não é representação, não é teatro, não é mimese, mas é Memorial.
Neste Domingo, 02 de abril, celebramos o Domingo de Ramos e da Paixão de nosso Senhor Jesus Cristo, iniciando a Semana Santa. Nele todo o Mistério Pascal é apresentado, desde o anúncio do Servo que assume a história humana, com a primeira leitura, do terceiro canto do Servo. Depois, com o relato da Paixão do Senhor segundo Mateus, vemos Jesus que, sem abrir a boca para a autode-fesa, aceita carregar sobre si as dores, os males, os pecados da humanidade. Vemos claramente, e precisamos fazer que nossos fiéis também enxerguem, que Jesus faz o caminho inverso do que apren-demos a fazer. De fato, o ser humano vive em uma sequencia de tentativas de afirmação de sua per-sonalidade, de sua vontade, de sua opinião. Queremos ter a última palavra, a razão em todas as dis-cussões. Alguns gastam muito dinheiro para embelezar-se, para driblar a natureza, a idade, as imper-feições para poder ter prazer em se ver e em se mostrar. Na sociedade do segundo modernismo nós vemos uma louca busca de diversão, de prazer, de distração a todo custo, até com a autodestruição das drogas. Outros esbanjam sua intimidade para ter sucesso a qualquer preço. É impressionante co-mo a “ganância do eu mesmo” nos envolve e marca. E Jesus, que é o homem perfeito, que a carta aos Hebreus afirmará, na sexta-feira da Paixão e Morte do Senhor, afirmará como o Sumo Sacerdote que rompe os limites humanos, Ele faz o caminho do aniquilamento que na teologia chamamos de Kénose.
Era necessário isso, como afirma a carta aos Filipenses deste Domingo de Ramos, onde sabe-mos que de Deus, Jesus rebaixou-se para ser homem, e mais do que isso, mais fundo ainda, ele se submeteu à morte, e morte de cruz. Somente assim ele pode ser exaltado, pois supera a miséria, o pecado, o egoísmo e sobretudo a egolatria que domina a História. O Salmo 22(21) nos leva a entender que a solidão de Jesus, na sua Paixão e Morte, é o caminho para que a Humanidade se entenda como um Corpo, e possa encontrar, por múltiplos caminhos, a salvação.
Espero que nesta semana possamos fazer alguma experiência de Deus e de salvação em nos-sa vida. Cuidemos de não nos concentrar no teatro da Paixão e Morte do Senhor, mas sim na Memória da vida do Senhor, dada em oferta, para poder celebrar a sua Ressurreição.
A todos, Graça e Paz!
Pe. Mauro Negro, OSJ
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